quarta-feira, 10 de março de 2010

Segunda sem Carne em Porto Alegre

O vereador Beto Moesch (PP) protocolou projeto de lei para instituir em Porto Alegre o dia “Segunda sem Carne”. Pela proposta, residências, restaurantes e demais estabelecimentos que comercializam gêneros alimentícios serão estimulados a optar por refeições vegetarianas todas as segundas-feiras.

“A dieta vegetariana é ecológica, saudável e compassiva. Precisamos disseminá-la o mais possível entre a população”, defende o parlamentar.

A iniciativa conta com o apoio da Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB), idealizadora da campanha nacional “Segunda sem Carne”, já adotada pelo governo de metrópoles como São Paulo.

A medida também procura promover o veganismo, filosofia de vida baseada nos direitos animais, cujos adeptos procuram não consumir produtos nem participar de atividades em que há exploração ou uso de bichos, excluindo todos os alimentos de origem animal - carne, ovos, laticínios, gelatina, mel e seus derivados.

Impactos no meio ambiente

Moesch diz que a produção industrial de carnes é uma das maiores fontes mais de poluição ambiental. “A manutenção de 30 bilhões de aves, peixes e mamíferos para abate exige áreas gigantescas, consome enorme volume de recursos naturais e energéticos, onera os cofres públicos e gera bilhões de toneladas de resíduos tóxicos sólidos, líquidos e gasosos, que contaminam solo, água, ar, plantas, animais e pessoas”, lista.

Relatório da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO, na sigla em inglês), de 2006, indica que os animais mantidos para consumo humano têm mais responsabilidade pelas mudanças climáticas do que todos os veículos automotores do mundo somados. De acordo com a pesquisa, cerca de 18% da emissão dos gases causadores do aquecimento global são gerados pela indústria da carne.

Outro estudo, publicado pela SVB, revela que um quilo de carne bovina é responsável, em média, por 10 mil m2 de floresta desmatada e pelo consumo de 15 mil litros de água doce limpa, além das dezenas de poluentes despejados no meio ambiente. No dossiê, calcula-se que, a cada segundo, uma área de floresta tropical do tamanho de um campo de futebol seja desmatada para produzir carne de boi equivalente a 257 hambúrgueres. Além disso, em uma terra cuja cobertura vegetal tenha sido removida e que tenha sofrido ação de pastoreio excessivo, a temperatura média pode aumentar cerca de 4º C.

Vegetarianismo e saúde

O vereador ainda aponta dados científicos que indicam relações positivas entre a dieta vegetariana e a redução do risco de várias doenças e condições degenerativas crônicas, como obesidade, doença arterial coronariana, hipertensão, diabete melito e alguns tipos de câncer.

Ele menciona a posição da Associação Dietética Americana, segundo a qual as dietas vegetarianas apropriadamente elaboradas são saudáveis, adequadas em termos nutricionais e apresentam benefícios para a saúde na prevenção e no tratamento de doenças.

Do mesmo modo, faz referência ao “Guia alimentar para a população brasileira”, editado em 2006 pelo Ministério da Saúde, que alerta que uma alimentação rica em proteínas animais contém altos teores de gorduras totais e saturadas, e portanto pode não ser saudável.

Maus-tratos aos animais

A exploração dos animais é mais um motivo para a proposição. “Não podemos esquecer que os animais sentem dor, prazer, alegria, tristeza, medo e afeto, assim como os seres humanos. O modo como são tratados no sistema de criação intensiva, confinados e manipulados como meras mercadorias, é extremamente cruel”, argumenta Moesch.



Helena Dutra (reg. prof. 12379)

segunda-feira, 1 de março de 2010

À Jennifer Moyer

Abri um livro e, antes de começar a lê-lo, me fixei na dedicatória da primeira página. Dizia: À memória de Jennifer Moyer, que deixou tudo melhor do que havia encontrado. É o que todos nós gostaríamos de ver escrito no nosso obituário, imagino.

Desconheço quem seja Jennifer Moyer, mas simpatizei com essa moça (garanto que ela nunca deixou de ser moça, mesmo que tenha morrido aos cem). Só as pessoas de alma jovem e sadia é que entendem que a gente não vem ao mundo para sugá-lo, para retirar dele o suco possível e deixar para trás o nosso lixo. Encontramos o mundo de um jeito, ao nascer. É uma questão de honra que ele esteja melhor ao partirmos.

Mas não é tarefa fácil. Eu desanimo quando vejo a quantidade de pessoas grosseiras que se reproduzem feito gremlins. Nem mesmo nosso chefe de Estado anda conseguindo manter a compostura.

Não é porque todo mundo fala palavrão – e todo mundo fala mesmo – que Lula precisa usar o mesmo recurso para se expressar em público. Aliás, vale para todos os que ocupam alguma hierarquia, sejam diretores de empresa, professores, pais. “Menino, vá estudar, ou quer ficar na merda pra sempre?”

Esse exemplo de elegância no tratamento é comum nos lares brasileiros, e com aval presidencial, tende a se perpetuar.

Se a gente quer que nossos netos herdem um mundo melhor, é preciso arregaçar as mangas agora e aqui, Copenhague fica muito longe. Então vamos lá: ninguém morre se caminhar três quadras em vez de usar o carro ou se procurar uma lixeira em vez de jogar a lata de refrigerante no meio da rua.

E não é só consciência ambiental que precisamos exercitar, mas também uma consciência básica sobre a arte de conviver. Não é possível que as pessoas sigam sendo tão maldosas e ariscas, sempre alfinetando os outros, sempre interpretando erroneamente os bons atos e cultivando um complexo de perseguição que mina as relações.

Ninguém mais acredita em ninguém, ninguém confia, todos vivem com a faca entre os dentes, temendo passar por otários.

E é o que acabam sendo. Se tivessem uma visão um pouco mais pacifista, iriam facilitar muito as relações humanas. Esperar o melhor dos outros é uma atitude contagiante, mas, infelizmente, esperar o pior também é. E fica essa guerra de nervos no ar.

Tenho uma visão bem individualista sobre o que torna o mundo mais habitável: cada um fazendo a sua parte já ajuda um bocado. Não estou falando apenas de contribuir com dinheiro para entidades carentes, adotar bichos de rua, doar sangue, mas também em cuidar do nosso humor, praticar a cortesia, aplaudir, elogiar – não há submissão nenhuma em ser positivo.

Mas somos acomodados e preferimos esperar por soluções estabelecidas de cima para baixo, como se a nossa colaboração fosse inexpressiva.

Dedico esta crônica à minha musa inspiradora de hoje, Jennifer Moyer, que sei lá o que fez para ser homenageada com uma dedicatória num livro, mas pouca coisa não foi:

ou ela soube transmitir aos filhos a importância de se viver sem mágoas, ou ela soube cultivar seus amigos, ou ela sempre foi justa, ou não se deixou levar por vaidades bestas, ou simplesmente sorriu mais do que praguejou. Ou tudo isso junto, o que já é um belo lote de atos revolucionários.


Texto de Martha Medeiros